sábado, 25 de setembro de 2010

Do adultério.

- Oi...
- Alô. Tudo bem com você?
- Vivo!
- O que você está fazendo?
- Procurando meu isqueiro.
- Bebendo?
- Aquele uísque que ficava guardado na prateleira.
- Você precisa melhorar esse seu estado, Gil!
- Vou desligar.
- Não, não desligue.
-Por quê? Não vai me dizer que você quer vir aqui em casa para eu satisfazer todas as suas loucuras até que você não aguente mais e feche as pernas.
- ...
- Não quer falar?
- Eu quero!
- Estou aqui, mas, não vou te receber hoje.
- Eu preciso Gio.
- Eu sei.
- Eu preciso Gio!
- Pelo visto seu marido viajou outra vez.
- Não. Ele está dormindo.
- Traga uísque e trate de não chorar dessa vez.


- Como você foi rápida.
- Tem cigarro?
- Na mesa.
- Você nunca vai aprender a tragar. Por que não para de tentar?
- Você sabe que o cigarro me excita.
- Como você é falsa!
- Me toque. Sinta meu cheiro. Vem.
- Puta.
- Não, Gio.  Você vai rasgar minha camisa. Gio, meu cabelo. Ai! Ai Gio... Gio... Gio... Isso.


- Não há euforia e desejo além das farsas pornôs e das traições, não é?
- Não sei do que você está falando.
- Ah sim. Acabou o seu tesão. Você já se recompôs.
- Minha camisa está rasgada, Gilberto.
- Sem mais nenhuma palavra. Pode ir. Cabeça abaixada e muito silêncio. Vá mastigando seu orgulho até à porta. Não coloque seus óculos até esteja dentro do elevador, assim você não repara a torneira pingando, o pôster do Coltrane que você detesta, o café espalhado na mesa, a poeira e os cinzeiros.
- Você não presta!
- Me dê logo esse copo e os cigarros que preciso terminar o Lobo Antunes.
- Por que? Que merda! Merda!
- Porque a gente quase sempre soube, Rita... Feche a porta!

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